O H. morreu

O H. andava na minha escola, e tinha 23 anos...
'Como é possível alguém morrer com 23 anos?' Foi o que automaticamente me passou pela cabeça! Isto e muitas coisas mais, como 'coitado, que nunca mais vai apanhar a dele' ou 'epa mas a chamada 'lei da vida' não é um gajo morrer só quando for velho?'

Foi um choque quando me disseram 'o H. está doente', mas mais choque ainda foi, uma semana depois 'o H. morreu'! Epa, mas assim, sem mais nem menos?

Disseram-me, 'mas ele continua a ir curtir a dele e a fazer de conta que não está doente', ao que eu penso, para morrer em tão pouco tempo antes tê-la curtido até ao fim, que estar nos seus últimos dias de sol a remoer desgraças! Pessoas como o H. não as vejo envelhecer... Todas as pessoas que de uma maneira ou de outra conviveram com ele, gostando mais ou gostando menos, até daqui a muitos anos se vão lembrar dele como ele era, irreverente, mordaz, livre... E se ele morresse aos 70 ou 80 anos como é a lei da vida, não ia passar de mais um velhote que morreu...

Lembro-me desse dia dos namorados em que te enviei uma carta de amor, anónima, pelo correio dos namorados da escola, andava no 5. ou 6. ano... Acho que foi a única carta de amor que escrevi, não por não ter vontade de as escrever, mas porque já ninguém tem paciência para cartas de amor... E lembro-me desse outro dia, já andávamos nós no 10. ou 11. quando me disseste que tinhas gostado muito da minha carta e que a tinhas guardado numa caixinha, e que volta e meia a lias para a tua avó (hihi, barraca, na altura), mas se por um lado, mais gozão que tu não havia, sei que naquele momento, apesar do meu embaraço, até estavas a ser amoroso!

Recordarte-ei em festa, porque acho que é no seu melhor que as pessoas devem ser recordadas!

E deixas um filho, que talvez seja pequeno demais para ter percebido alguma coisa, e que no futuro talvez nunca se vá lembrar da tua cara, senão por fotografias... Mas ao menos um bocadinho de ti ficou, e concerteza que muito mais de ti ficou no coração de todos que te conheciam, e mais ainda no coração daqueles que eram teus grandes amigos!