Friday, March 18, 2016
Esse vazio que sempre h(abitar)á em mim
Um dia acordei e vi que estava morta. Não era mais eu. Não era ninguém. Era um pedaço do passado sem presente nem futuro.
Tentei levantar-me, incrédula, mas não consegui.
Não era mais eu, recordei.
E no meio desta grande revelação comecei a recordar o que de bom deixava da vida e não contive uma lágrima que escorreu rosto abaixo. Ainda mal tinha percebido que tinha morrido e já a lágrima secava antes de chegar ao peito, afinal já nem lágrimas havia. Que estranha sensação esta, de olhar como que para mim mesma, ou para aquela que havia sido eu, vendo na surrealidade do momento uma grante falta de sentido.
Afinal tinha vindo a morrer aos poucos e não me tinha apercebido. Assim que a desesperança começou a tomar conta de mim, também a morte começou a habitar em mim, e este era o meu único desfecho possível.
Ainda mal podia acreditar...
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Nunca fui boa a tomar decisões, na maioria das vezes era o acaso da vida que acabava a decidir por mim. Afinal, nada acontece por acaso, assim julgava eu.
Houve uma altura em que achava que já era capaz de me comprometer com esta ou aquela decisão, que tinha finalmente chegado "à vida adulta" e largado o "Síndrome de Peter Pan", como costumam dizer, no entanto tudo é sempre um engano, a insegurança de não saber que decisão tomar não me largava, como se de uma carraça enterrada na carne se tratasse.
Com o tempo cheguei à conclusão que esta incapacidade para a decisão consciente e orientada estava unha com carne com a dificuldade manifesta de realizar um compromisso. Não é aquele compromisso de ir amanhã ao cinema ou amanhã ir jantar a casa da prima, mas o compromisso que encerra não só coisas boas, mas situações adversas. Pode ser difícil explicar a quem nunca tenha padecido de semelhante fobia, mas centra-se muito na questão de fechar um sem-fim de portas, sem saber se poderei vir a precisar delas "se me comprometer com esta carreira, não vou poder mudar nunca mais", afinal porque é que não posso ser também outras coisas - professora, modista, escritora, fotógrafa - tem a ver com a inevitabilidade das consequências alcançadas a longo prazo. Não poder mudar o destino (se é que é assim se chama). Não poder mudar quem sou (não poder melhorar). Não conseguir mudar de vida se chegar a um ponto tremendo de infelicidade. Não conseguir ser feliz porque a rotina, aos poucos e poucos começa a morder os calcanhares. Não ser capaz de encontrar motivação na indiferença dos dias.
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Morrer por dentro sem me aperceber...
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Escrito a 05/01/2015, mas podia ter sido ontem ou hoje
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