Sunday, February 2, 2020

Livros de 2019

Foi  um ano bom de muitas e boas leituras :)

O amor é, JúlioMachado Vaz e Inês Meneses, 4 estrelas
Consiste numa série de pequenas crónicas sobre o amor que começam com o mote de uma letra de uma canção/poema e que os autores vão comentando ao estilo conversa ao longo dos vários capítulos. É bonito e light, muito fácil de ler.

O coração da vida, Paulo Borges, 5 estrelas
É a compilação dos workshops de meditação do Paulo Borges com mais suporte teórico (infelizmente menos prático claro). Não é facílimo de ler, tem várias ideias que são necessárias apreender e refletir sobre. De qualquer modo vale muito a pena para quem esteja minimamente interessado em descobrir benefícios e técnicas de meditação.

História de um caracol que descobriu a importância da lentidão, Luís Sepúlveda, 4 estrelas
É uma história curta, sobre a vida de um caracol curioso e aventureiro, que foge ao banal. O livro está muito bem ilustrado e a história está cheia de significado como é apanágio do Luís Sepúlveda.

Como é linda a puta da vida, Miguel Esteves Cardoso, 4 estrelas
Trata-se de um conjunto de pequenas histórias, julgo que publicadas em jornais, previamente. A primeira parte que fala bastante da doença da esposa não é tão animada, mas as restantes partes são bastante fáceis e no geral o livro lê-se muito bem.

Recomeça, Sofia Castro Fernandes, 2 estrelas
Aborda conceitos interessantes do campo da mudança do comportamento e mudança do pensamento para uma perspetiva mais otimista da vida, de forma a moldar o próprio pensamento, mas não acrescentou assim nada de novo que eu ainda não soubesse.

Jorge Luís Borges, Biblioteca Pessoal, 2 estrelas
Este livro no fundo faz uma pequena apresentação de alguns dos livros significativos na vida do autor e a sua opinião sobre eles. Não conta propriamente uma história ou um acontecimento.

O vendedor de passados, José Eduardo Agualusa, 4 estrelas
Histórias cruzadas e surrealismo como é típico do Agualusa. Passa-se em Luanda e tem como personagem principal um albino que compõe árvores genealógicas. Gostei bastante da história e a escrita do Agualusa não desilude.

O monge que vendeu o seu ferrari, Robin Shoarma, 5 estrelas
É um livro muito giro, muito bem escrito, muito interessante. Adorei as várias reflexões e ideias, já partilhei com outros amigos a leitura do livro porque me parece que tem no seu cerne ideias muito importantes para a vida.

No Enxame, Byung-Chul Han, 3 estrelas
Byung-Chul Han é um filósofo natural da Coreia do Sul, mas que reside na Alemanha há vários anos. Tinha lido um livro dele no ano anterior e gostei bastante. Este livro aborda a temática das redes sociais nas relações e forma de comunicação atual, gostei das reflexões acerca das implicações que isto tem, alguns padrões já tinha identificado outras nem tanto. De qualquer modo não deixa de ser um pouco assustadora uma diferença tão relevante na forma de relacionamento e "debate" nos últimos anos. Na mesma altura vi o documentário"Big hack" que também me deixou bastante perturbada e preocupada.

O último comboio para a zona verde, Paul Theroux, 5 estrelas
Comprei este livro quando comecei a programar uma viagem à Namíbia pois descreve o percurso do autor desde África do Sul até Angola, passando pela Namíbia. É um livro muito interessante, apesar de extenso, e é de leitura muito fácil. Acompanhamos o percurso do autor que é feito de forma terrestre, o que claro traz aventuras e conteúdo à escrita. Tem muitas ideias acerca das coisas, ou seja a perspectiva do autor, e é interessante a abordagem do impacto que o colonialismo teve em África, aos seus olhos, particularmente em Angola. Não posso dizer que a perspectiva com que é abordado seja abonatória dos portugueses, muito pelo contrário.

Raparigas como nós, Helena Magalhães, 4 estrelas
Já seguia a autora que é portuguesa há uns tempos, gostei de coisas que a vi escrever pontualmente no instagram (por falar em redes sociais), e admiro o fato de ser uma escritora, mulher, feminista, jovem, no nosso país. Assim num dia que desci ao Chiado e estava à espera de amigos para jantar, comprei o livro e comecei a ler com entusiasmo. O livro aliás é muito fácil de ler, ainda que de grandes dimensões. Foi fácil nalguns pontos identificar-me com a personagem principal, a Isabel, enquanto adolescente com alguns problemas de amores não correspondidos e integração, na altura achava que era a única, mas afinal quem nunca. Como em qualquer história que meta adolescentes tem coisas razoavelmente previsíveis e outras nem tanto e de forma geral o saldo da leitura é positivo pois a escrita é clara, fluida e encadeada.

A hora da estrela, Clarice Lispector, 3 estrelas
Há muito tempo que queria ler algo desta autora, pela relevância que tem na literatura brasileira. Assim, foi num dia com mais tempo livre que fui à Livraria da Travessa em Lisboa, que faz parte de uma rede de livrarias originárias do Brasil, e comprei este livro. A história ao início é um pouco confusa pois parece que não vai a lado nenhum, e depois lá começa a contar uma história que tem uma mulher frágil, que parece não fazer diferença no mundo, Macabéa, como personagem principal. Não posso dizer que detestei, mas também não foi amor à primeira vista. Parece-me que terei de dar mais uma oportunidade aos livros da autora, antes de perceber se me faz sentido ou não. É um livro curtinho e tirando a parte inicial é de leitura acessível.

The purple violet of Oshaantu, Neshani Andreas, 2 estrelas
Comprei este livro na Palavra de Viajante, quando fui comprar o mapa das estradas da Namíbia. Trata-se das poucas autoras namibianas com tradução para Inglês e queria ler algo temático durante a viagem, sendo o livro bastante pequeno e por isso muito portátil. Como a viagem não teve muitos tempos mortos, só consegui ler meio livro durante a viagem e li o restante já regressada à pátria. Aborda a vida num vilarejo da Namíbia e tem como protagonistas a vida de duas mulheres amigas e suas  respetivas famílias. Expõe o papel da mulher no seio familiar e como o seu reconhecimento pode ser diferente, no caso consoante o marido que lhes calhou :) é uma abordagem da sociedade ainda muito baseada na figura masculina enquanto gestor da economia, da dinâmica familiar e social. Claro que nem sempre é fácil empatizar com as personagens quando tenho a sorte de pertencer a uma cultura tão diferente, ou a uma realidade individual que felizmente é tão diferente, onde a comunicação é feita de igual para igual.

Homens imprudentemente poéticos, Valter Hugo Mãe, 5 estrelas
A escrita deste autor é muito bonita, adorei os livros que já li dele e acho que adorei ainda mais este.
Aborda a vida numa aldeia junto à floresta dos suicidas, que fica no Japão e onde muitas pessoas vão para colocar um fim à vida (ou decidir não colocar), é um livro de vida e morte, renascimentos e reinvenções contado de forma pausada e poética.

Desumanização, Valter Hugo Mãe, 3 estrelas
Relata acontecimentos de um pequeno povoado isolado no meio da Islândia com as suas próprias personagens e interações.
Adorei o "homens imprudentemente poéticos" e talvez não fosse o ideal ter lido logo este livro de seguida, que em comparação com esse é muito mais cru e frio. A escrita é, como é apanágio do autor, cuidada e viciante.

Galveias, José Luís Peixoto, 4 estrelas
Tem como pano de fundo uma aldeia, Galveias, de onde o autor é natural. Relata os dias de outros tempos recorrendo às vidas dos habitantes que se vão intercruzando no seu dia-a-dia mais ou menos banal.
Oscila entre a brutalidade e a simplicidade que é o espelho da vida difícil, do campo, sem  charme ou elegância alguma, mas ao mesmo tempo peculiar e atrativa.

A educação de Eleanor, Gail Honeyman, 4 estrelas
É uma história fluida, bem escrita que dá vontade de ler, sobre uma mulher com as suas particularidades e a importância que a amizade, o carinho tem para o desenvolvimento dos seres humanos e em particular para este ser humano que é a Eleanor.

Amor de perdição, Camilo Castelo Branco, 4 estrelas
Um clássico, de um autor português, que já estava na prateleira à espera de ser lido há muito tempo. Já tinha feito uma primeira tentativa, mas as primeiras frases, em português antigo, na altura não me prenderam, mas há uma altura para tudo e agora foi o momento de ler o livro.
Um romance não há dúvida, passado em 1800 e pouco, por isso interessante ver as diferenças, quer em termos de aceitação (ou não) da família quer a barreira das classes sociais mais vincada na altura, tendo em conta o que se escreve. A forma de escrever mais antiga, não dificulta a sua leitura afinal. É um livro bastante interessante!

O Caminho Imperfeito, José Luís Peixoto, 5 estrelas
Até ao momento dos livros que já li do autor, é o meu preferido, pois está mesmo muito bem escrito. Faz um paralelismo entre tempos vários que mais ou menos se vão cruzando na mesma pessoa. São misturadas ideias de uma infância longínqua e de várias viagens, à Tailândia que tem especial preponderância e aos Estados Unidos. Vai contando uma história, e tem algumas reflexões pelo meio, muito bonitas e intemporais.

Não faças mal, Henry Marsh, 4 estrelas
Conta histórias de vida e de morte de alguns dos que de cruzaram com este neurocirurgião. É uma reflexão muito interessante acerca do erro médico que nem sempre se distingue do erro humano.

Contar [com a] medicina, Isabel Fernandes et al, 5 estrelas
Relatos de quem se sente doente, a perspetiva de quem recebe um diagnóstico e cuidados. O impacto que as doenças têm na vida das pessoas.

A venturosa história do usbeque  mudo, Luis Sepúlveda
São várias breves histórias que abordam atos revolucionários e a vida à margem do politicamente correto.