Saturday, February 5, 2022

Livros de 2020

 Foram 50 livros num ano, não foi mau =)

Jan (4)

Diz-lhe que não, Helena Magalhães, 3 estrelas

Uma série de pequenas histórias, acerca de (des)amores. A leitura é muito fluida, o conteúdo são predominantemente as relações e respetivas dificuldades.
Gostei, mas não é um livro que dê muito espaço à reflexão.

A vida invisível de Eurídice Gusmão, Martha Batalha, 5 estrelas

É um livro muito interessante, conta a história de vida da Eurídice, num tempo e num espaço em que o papel da mulher acaba por ser bem diferente daquele que é hoje em dia. Os valores e a sociedade moldam as mulheres, as famílias, as emoções e as relações.
É um livro aparentemente simples, mas que nos vai dizendo muito.

Eleanor & Park, Rainbow Rowell, 4 estrelas

Conta a história de amor dois adolescentes, conta (ou não) os problemas de duas famílias, as realidades completamente diferentes que se tocam, sem se cruzarem talvez. É muito bonito, mas também muito cru.

Why zebras don't get ulcers - The Acclaimed Guide to Stress, Stresd-Related Diseases, and Coping, Robert M. Sapolsky, 4 estrelas

É um livro grande, denso, com muitos nomes técnicos, que discorre sobre os efeitos do stress nos vários órgãos e funcionamentos, deixou-me assustada ao início, mas também vai ajudando a compreender várias coisas nomeadamente como podemos tentar ser mais zebras :)

Fev (4)

Madame Bovary, Gustave Flaubert, 3 estrelas

É um romance dos clássicos, aborda o percurso de um homem até se casar com uma mulher que se sente aborrecida com a vida que leva, que gostaria de ter e ser mais do que tem e é na realidade, que vive esses sonhos também através da leitura de romances e posteriormente através de encontros adúlteros. À época (1856) foi um escândalo de livro e o autor foi levado a tribunal, por causa do tema do adultério principalmente, mas também pela crítica à burguesia e questionamento da religião!

Fact Fullness, Hans Rosling, 5 estrelas

Um livro muito bem escrito, interessante, cativante sobre alguns dados como o próprio nome indica. Tenta chamar a atenção para alguns problemas da estatística como as médias, e tenta aclarar alguns preconceitos sobre outros lugares do mundo, que no geral está melhor do que parece.

O Grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald, 5 estrelas

É excecional, chega a ser o romance do romance, ou seja o que fica do romance depois de tanto ter sido romantizado e pensado e amado, anos a fio. Como se o romance em si fosse o objetivo último e como se de uma obsessão se tratasse, no final de contas.
Aqui é o homem que vive em busca de algo maior, vemos um homem agarrado a uma ideia e de que forma isso modela a sua vida.
Aborda também as nuances do amor e das paixões que ocorrem em classes sociais diferentes e de que modo isso molda as relações, o futuro das relações, o futuro das pessoas, que são tão frágeis afinal.

Pessoas normais, Sally Rooney, 5 estrelas

Adorei este livro, o estilo de escrita e os personagens. Não é a história em si mesma, mas a conexão (ou não) que os personagens principais  estabelecem, entre eles e com os outros.

Mar (1)

Mrs. Dalloway, Virginia Woolf, 3 estrelas

É um livro pequeno, mas denso de personagens, sensações e pensamentos. Talvez o estado de agitação atual do mundo não tenha ajudado a manter o foco para ler este livro, demorei quase um mês a completá-lo. Penso dar mais uma oportunidade a Virginia Woolf numa altura em que o mundo esteja mais calmo e a minha pessoa também, com mais disponibilidade para a complexidade.

Abr (4)

Os poemas possíveis, José Saramago, 3 estrelas

É um livro de poemas, alguns mais interessantes que outros, apesar de gostar muito da prosa deste autor, não me identifiquei tanto assim com os poemas.

Yoga para pessoas que não estão para fazer yoga, Geoff Dyer, 3 estrelas

Não é fácil empatizar com o personagem Dyer, principalmente no início, em que parece não (querer) ir a "lado nenhum". Mais à frente parece haver uma vontade de percorrer  uma espécie de caminho de auto-descoberta, mas a abordagem parece estar longe daquilo que é o necessário, pensei eu sem poder evitar alguma crítica e identifiquei noutros comentários ao livro que não fui só eu com este instinto, ainda que o quisesse evitar, afinal é sempre fácil criticar a honestidade alheia e o caminho do outro. 
Por outro lado verdade se diga, acaba por ser uma personagem muito pouco hipócrita uma vez que não se esconde atrás de mantras, não se inibe de mostrar o lado mau e pouco popular da vida de quem viaja. Independentemente do personagem os caminhos percorridos, nos vários continentes estão bem descritos e o livro lê-se muito bem, se assim não fosse não despertava tantas emoções.

As Ilhas Desconhecidas - Notas e paisagens, Raul Brandão, 3 estrelas

As cores, o temporal, a paisagem são adjetivados ao extremo. Ao início estranha-se, depois lá se vai entranhando. Existem alguns capítulos menos descritivos que por sinal foram os que acabei por gostar mais, com um pouco de maior enfoque na vida, na história das ilhas e das pessoas que as habitam. Sem dúvida que dá vontade de voltar às que já conheço e de ir pela primeira vez àquelas que nunca fui. 
Sempre considerei as ilhas dos Açores muito genuínas, gostei de ler as considerações de um escritor que lá foi há quase 100 anos e perceber que já existiam diferenças na altura.

A Arte da Viagem, Paul Theroux, 3 estrelas

Um caminho literário, uma compilação de frases e histórias de viagens de diversos autores.

Mai (4)

O Bairro das Cruzes, Susana Amaro Velho, 5 estrelas

A história de um bairro, de uma família, de um tempo à volta do 25 de Abril, feito de contrastes e de lutas.

Noivos à Força, Christina Lauren, 3 estrelas

É um livro muito fácil de ler, e bastante divertido. Centra-se numa história que não sendo banal, também não é extraordinária.

O tempo entre costuras, Maria Duenas, 5 estrelas

É um livro grande, mas de leitura muito fácil, uma vez que a história é bastante envolvente, e nada parada, ao final de 100 páginas já aconteceu uma imensidão de coisas. 
Junta ficção com fatos históricos, nomeadamente da vida política europeia e marroquina dos anos 30 e 40 do século passado.

Capitães da Areia, Jorge Amado, 4 estrelas

Muito interessantes as várias perspetivas acerca dos "Capitães da Areia" (excertos de notícias iniciais). 
Não deixam de ser ladrões, malandros, violadores, mas são o espelho de uma sociedade imperfeita, na qual a falta de amor e carinho deixa marcas mais profundas que navalhas. 
Ao longo das páginas o autor expressa vários conteúdos políticos, as greves, a lutas pelos direitos, geralmente dos pobres ou negros face a tão grandes desigualdades, pelo que também não é de estranhar que tenha sido perseguido após o livro ser lançado. 
Não dou 5 estrelas porque apesar de tudo não é fácil encarrilar na escrita do autor, pelo menos inicialmente a estrutura do livro não parecia muito clara.

Jun (4)

A História de uma Serva, Margaret Atwood, 5 estrelas

É um livro que assenta na descrição da vida atual e prévia de uma mulher, cuja sociedade onde se insere muda radicalmente. 
A sua história vai sendo contada aos poucos, e algumas vezes metaforicamente falando. Sentimos a opressão das novas regras de uma sociedade criada em torno de pilares estranhos para nós, mas que foram sendo erguidos sem que se dessem conta os intervenientes. Perturbador porque nunca se sabe o que o futuro nos reserva...

Onde cantam os grilos, Maria Isaac, 4 estrelas

É uma história bem contada, mistério, intriga e amor QB, aos olhos de um adulto que recorda a criança que foi.

O cérebro idiota, Dean Burnett, 3 estrelas

Um livro interessante e simples acerca do cérebro.

O Filho de Mil Homens, Valter Hugo Mãe, 4 estrelas

Bonito, poético, profundo. Consegue enaltecer os infelizes, sós e mal afamadas pela sociedade.

Jul (4)

A Rapariga do Casaco Azul, Monica Hesse, 4 estrelas

Uma história que se passa durante a segunda guerra, muito bem contada e cativante. Porque é preciso saber resistir, penso que é a mensagem, tão atual.

Uma Casa na Escuridão, José Luís Peixoto, 1 estrela

Demasiado triste mesmo. Se calhar fui eu que não percebi a ideia, mas claramente não cativou.

A Vida Oculta das Coisas, Claudia Cruz Santos, 5 estrelas

Muito interessantes como diferentes histórias se cruzam, a maioria delas com muito significado e sobre as quais temos vontade de saber mais.

A Cidade das Mulheres, Elizabeth Gilbert, 4 estrelas

É sobre aceitar os outros e a nós mesmos. 
É sobre aceitar as falhas que todos nós temos. 
É sobre como reinventar a vida e o amor.

Ag (6)

Uma lágrima na face da Índia, Daniel Nunes de Sousa, 3 estrelas

Um pouco clichê. 
Alguém que se quer encontrar e foge da sua vida aborrecida para ir para a Índia.
Apesar disto, aborda algumas temáticas interessantes, nomeadamente a violência contra seres humanos e em particular mulheres devido a tradições arcaicas, o que infelizmente ainda é bastante comum.

Muito barulho por nada, William Shakespeare, 3 estrelas

Apesar de algumas ideias clássicas como o ideal de virgindade feminino antes do casamento, tem algumas situações cómicas que me parecem intemporais.

Sísifo, Gregorio Duvivier e Vinicius Calderoni, 4 estrelas

O texto que deu origem a uma peça de teatro, em forma de reflexão sobre alguns tópicos do quotidiano.

Para onde vão os guarda-chuvas, Afonso Cruz, 3 estrelas

Não é que não tenha achado a escrita bonita, que é, bonita, poética, não sendo opressiva ou rígida. 
Os personagens são pedaços de histórias de vida, mas os acontecimentos somados fazem com que história em si seja mesmo muito triste.

Sob Céus Vermelhos, Karoline Kan, 5 estrelas

Uma história sobre a China, contada por uma chinesa que saiu da aldeia para a cidade.
Os contrastes da China rural com a China citadina.
A semelhança da China citadina ao ocidente.

As Ondas, Virginia Woolf, 3 estrelas

Não é fácil o início do livro, até percebermos o que está a acontecer.
A escrita é super detalhada, pormenorizada, cuidada, poética por vezes. No entanto é melancólica e um tanto ou quanto distante.

Set (4)

Rughe Collection, Paco Roca, 4 estrelas

Banda desenhada que conta a história de um homem que vai para um lar, com o avançar do tempo piora a demência, mas melhora a amizade e as aventuras.

Rapariga, mulher, outra, Bernardine Evaristo, 5 estrelas

12 versões de 12 mulheres. A perspetiva da cada uma por vezes sobre a mesma situação, a fazer lembrar que nunca existe apenas uma versão da mesma história. Vidas que se cruzam com outras. A procura e a descoberta daquilo que faz (ou não) sentido. Mulheres reais, nem sempre lindas, mas a tentarem superar os obstáculos da vida.

A Decisão Final do Major Pettigrew, Helen Simonson, 3 estrelas

Um romance "light" que se passa numa pequena vila inglesa com cunhos de aristrocracia. 
É um ultrapassar (ou não) das ideias preconcebidas que cada um em si encerra.

A Sociedade Literária da Tarte de Casca de Batata, Mary Ann Shaffer e Annie Barrows, 4 estrelas

Uma história que se passa logo após o final da Segunda Guerra, contada através de cartas, muito bonita e simples.

Out (4)

Amália, ditadura e revolução: a história secreta, Miguel Carvalho, 4 estrelas

Como o próprio nome indica é a história da carreira da Amália e de que forma a política portuguesa influenciou (ou não) a sua visibilidade e sucesso no país. Aparentemente antes dos portugueses apreciarem a Amália, já o estrangeiro se tinha rendido.

Epítome de pecados e tentações, Mário de Carvalho, 3 estrelas

A forma de escrita é muito interessante, acrescenta léxico ao português do dia-a-dia.
Contos sobre traições ou situações menos lineares digamos, que remontam nalguns casos a mentalidades e tempos idos.
Não pude deixar de pensar que muitas vezes queria o autor fazer-me crer que estava a ouvir falar uma mulher, mas na verdade era um homem a tentar escrever sobre mulheres que eu ouvia.

Testamentos, Margaret Atwood, 4 estrelas

Achei absolutamente incrível a história da Tia Lydia, de como tem de se adaptar para sobreviver. De todo o modo é difícil não comparar com "A história de uma serva" que consegue ter um componente de mistério e encanto que este por ser mais explicativo acaba por não ter.

Clara Não, Miga, esquece lá isso, 4 estrelas

Um livro de ilustrações sobre tristezas e alegrias da vida, com sentido de humor e alguma ironia à mistura.

Nov (6)

O Paraíso vão os Outros, Valter Hugo Mãe, 5 estrelas

Uma história infantil, supostamente, contada por uma criança que observa a estranheza/beleza dos casais. Mas que pode (e deve) ser apreciada por qualquer adulto. A escrita é poético e linda.

Pão com fiambre, Charles Bukowski, 5 estrelas

Cru, cruel, real, sem barreiras. De certa forma aquilo que ocorre antes da adaptação social do cérebro. Mais uma vez a certeza que todas as pessoas do mundo precisam de amor, os pobres, os feios, os que se acham maus. Quando perdemos a rede de afetos que nos liga ao mundo toda a gente perde.

As mensageiras da esperança, Jojo Moyes, 4 estrelas

Uma história que aborda a dificuldade de integração numa comunidade pequena e tacanha. Mas acima de tudo acerca da amizade entre mulheres.

A vida secreta das viúvas Panjabi, Balli Kaur Jaswall, 5 estrelas

A história passa-se em torno de uma comunidade indiana em Londres. É sobre ser um emigrante; o sentimento de pertença (ou não) a ambos os lugares, a ambas as culturas; e os desafios que isso representa.
É também sobre ser viúva numa sociedade em que a mulher geralmente perde a voz quando perde o marido.
É sobre solidariedade, intimidade, segredos, paixão humano-humana ou humano-costumes, que às vezes também cega as pessoas.

Um castelo em Ipanema, Martha Batalha, 4 estrelas

Os vários sujeitos vão dando as suas perspetivas sobre o que acontece e há tanta coisa ligada. É sobre amar e/ou não amar. Sobre ter e/ou não ter. Sobre ser e/ou não ser. 

A Terceira Índia, Iris Bravo, 5 estrelas

Adorei o livro! Ao contrário da maioria dos comentários que vi até nem me importava que o final do livro fosse o final da saga. Deixa espaço à imaginação QB. Mas agora que sei que há uma parte dois espero que esta termine em Cabo Verde, se é que me entendem. #teamalex

Dez (5)

Lá onde o vento chora, Delia Owens, 5 estrelas

Uma das personagens principais do livro, a natureza, insinua-se imensa, magnífica, um pouco excêntrica e auto suficiente. 
Kya, sua filha, segue-lhe os passos, depois de perder as ligações familiares e (poucas) sociais que a prendiam mescla-se na paisagem como só ela sabe. 
A pequena vila, ainda cheia de injustiças e presa aos padrões homem-mulher e branco-negro torna-se fonte de desconfiança.
A pequena sociedade em torno, personificada nalguns momentos em Chase Andrews, é confusa e imprevisível.
O que é certo é que num mundo cravado de injustiças a natureza sabe sempre o que faz. Tate não deixa de representar o ser humano cheio de inseguranças, de todo o modo é esperança num mundo melhor, é amor, e é o amor que une a natureza ao resto.

Apneia, Tânia Ganho, 3 estrelas

O livro está bem escrito e bem encadeado, mas decorre à volta de temas bastante pesados: divórcio, a vida de uma criança nessa decorrência, etc.
Inicialmente é mesmo muito repetitivo, o que talvez ajude a empatizar com a sensação de impotência da personagem Adriana, mas também transmite muita angústia a quem lê. Apesar de tudo vai-se desenrolando mais facilmente para o meio do livro.
A história é boa, mas dura, a leitura é de certo modo desgastante e as emoções transmitidas muito pouco positivas. É necessário escolher um momento de muita paz interior para ler o livro, mas decerto não deixará indiferença.

Terra americana, Jeanine Cummins, 4 estrelas

Independentemente se é ou não uma fiel descrição da realidade dos migrantes e do México (parece que está envolto numa série de polémicas), a mim parece-me uma história interessante e bem contada. A fuga de uma mãe e de um filho das malhas de um cartel. Empatizei com a angústia, as dificuldade e claro expôs o privilégio que é viver em nações onde a criminalidade apesar de tudo não é tão preponderante. Apesar de tudo isto não é um livro fácil, é duro e tem bastante violência envolvida.

El fruto proihibido, Liv Strömquist, 4 estrelas

Uma banda-desenhada escrita de modo cómico que coloca na sua perspectiva histórica, religiosa, social e cultural a mulher, a sua vulva e outros temas como o orgasmo feminino e o pudor relativamente à menstruação.

Pulp, Charles Bukowski, 3 estrelas

Este livro é sobre a inevitabilidade da morte e a capacidade de abstração da mesma enquanto o  personagem atravessa alguma sensação de impunidade. Apesar de tudo mantém-se imprudente, irónico e fiel a si mesmo até ao fim.

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